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O Jovem o Erudito e o Político - A Crónica de um Velho

Prelúdio:  Na quietude de uma tarde de outono, daquelas em que o sol teima em confortar com melancolia as mentes mais desassossegadas, um velho sábio sentou-se à sombra de uma oliveira. Do prosélito corpo desta árvore, que não se permitir esconder uma já vetusta idade, emanavam enormes ramos, quais braços que envolviam quem dela se abeirava procurando refúgio do sol invernal. Talvez inspirado pela sua altivez, ou por a vida já o ter deixado despido da normal inquietude, o ancião, deixando-se levar pelos pensamentos de memórias passadas, começou a cogitar lembranças sobre três figuras que marcaram sua vida; o jovem, o erudito e o político.  As suas histórias, embora distintas, de algum modo entrelaçavam-se, cada uma trazendo memórias de uma vida quase extinta; umas boas, outras menos felizes, mas todas insinuando lições e reflexões profundas.   O Jovem, o Erudito e o Político:  A sua jornada fá-lo primeiro recordar o jovem, talvez porque este o tenha marcado pelo seu espírito indomável,

O Sol e a Lua

Interlúdio: Anteriormente à existência de qualquer planeta, galáxia ou universo, antes a qualquer vida ou espírito, dois astros vagueavam pelo vazio. Solitários e sem brilho, desconheciam da existência um do outro; sem saber o que era o sentir, deambulavam em total escuridão, incertos se os seus olhos estavam abertos ou cerrados. Tantas vezes pareceram íntimos, de tão próximos que se cruzavam, mas eram incapazes de ver ou sentir a força e a magia um do outro; momentos houve em que quase se tocaram, quase se notaram… mas sempre só quase.  Contudo, num desses instantes frugais, ainda mesmo antes do tempo existir, tropeçaram no nada e chocaram de frente; abriram os olhos e, como algo de magia, reconheceram-se e sorriram com a presença um do outro. Hoje vivem assim, separados; o sol finge que é feliz, a lua não consegue esconder que é triste. Prefácio: Também no templo maçónico vivem reclusos estes dois símbolos, inscritos na parede mais a oriente; ele do lado direito de quem entra, ela do

Carta ao Egoísmo

Sinto-me distante, e não me refiro a este espaço em particular, mas ao reconhecer-me ostracizado da humanidade em geral, fruto não de um desinteresse fugaz, mas de algo mais profundo e hermético; é resultado do egoísmo de estar centrado em mim, nos meus problemas, nos meus anseios, nos meus temores.  Este egocentrismo não é introspetivo nem endémico nem fruto das circunstâncias que nos assolam nestas últimas semanas, mas algo muito anterior, profundamente extrospetivo e assustadoramente extenso. Enquanto penso nesta retórica, toca o telefone e, vocifero para o meu íntimo: mais uma chamada ao trabalho. Errei; era alguém importante, com a importância daqueles indivíduos que na nossa vida são símbolos da força e do otimismo; mas desta vez ouço um homem enfraquecido, onde perpassa o desanimo e o temor; à distância do telefone, vi o medo no seu rosto. Falhei no propósito tão almejado de lhe transmitir confiança, como antes tantas vezes me tinha sido oferecida; fosse por necessidade ou por c

O Udyat

Recuando até à época em que as lendas, as fábulas e os mitos eram as narrativas que conduziam a vida dos povos, contemplemos Osíris, o senhor do sol e Ísis, a senhora da lua e da magia, que à época grassavam no Egito e cujo reino crescia com eles em beleza e sabedoria; eram amados por todos, talvez com a exceção de Seth, que sentia crescerem dentro de si a ira e a inveja pelos feitos do seu irmão Osíris.  Quando um dia se vê afastado do Egito, fruto dos seus afazeres bélicos, Osíris deixa Ísis a governar no seu lugar, o que enche o coração de Seth de cólera e ciúme; a quando do regresso triunfante de Osíris, Seth, juntamente com 72 fiéis amigos, oferecem-lhe as boas vindas na forma de um soberbo banquete, no final do qual presenteia a multidão com um magnífico sarcófago em ouro, destinado a quem melhor se lhe adequasse; sabendo já de antemão que este havia sido moldado ao figurino Osíris, o mais alto e forte de entre todos os presentes, eis que quando chega o momento de Osíris vestir o

As Antigas Obrigações e a Carta de Bolonha

O Preâmbulo: Existe um vasto acervo de documentos históricos, profusamente anteriores à fundação da Grande Loja de Inglaterra, que serviram, em tempos idos, como estatutos e constituições para os denominados Maçons Operativos, os insuspeitos antecessores da maçonaria especulativa e que de facto exerciam a nobre profissão de construtores.  Estes escritos são referidos em Maçonaria de distintas formas, desde Antigos Manuscritos, Antigas Constituições, Lendas da Ordem, Manuscritos Góticos, Antigos Registos, entre outras; doravante consideremos a tradução mais próxima da nomenclatura original em língua inglesa de Old Charges e passemos a referir estes egrégios escritos como Antigas Obrigações. Na sua fisionomia são encontrados na forma de papel manuscrito, rolos de pergaminho, laudas costuradas em forma de livro, e mesmo no formato impresso mais contemporâneo. Divergem em data de 1390 até o primeiro quarto do século XVIII, estando a sua maioria à guarda do Museu Britânico e da Biblioteca M

O Templo Ecuménico Universalista

Nos arrabaldes de Miranda do Corvo, depois de um bonito trajeto por estradas de terra, encontramos no meio da floresta, no topo da colina do Parque Biológico da Serra da Lousã, o Templo Ecuménico Universalista; trata-se de um espaço idealizado, financiado e erguido pela ADFP, a Fundação para a Assistência e Desenvolvimento e Formação Profissional, uma instituição de solidariedade social laica com sede no mesmo concelho. Tendo a sua primeira pedra lançada a 11 de Setembro de 2015 e inauguração celebrada a 11 de Setembro do ano seguinte, este templo pretende ser um monumento de homenagem às vítimas do fundamentalismo, não só às que pereceram no mesmo 11 de Setembro, mas de uma forma geral a todas as pessoas que ao longo de séculos e milénios morreram devido ao fundamentalismo e às ortodoxias religiosas.  A entrada do recinto é efetuada por um portão em ferro, suportado por entre duas colunas de pedra, fazendo lembrar a entrada de um templo maçónico, pese embora a ausência de inscrições e